domingo, 21 de novembro de 2010

O AFLITO E AS LIÇÕES DA AFLIÇÃO




“Foi-me bom o ter passado por aflições...” – Salmo 119: 71


Nunca fui procurado no gabinete pastoral por alguém que me pedisse conselhos sobre como poderia aumentar o seu sofrimento. Tão pouco alguém me procurou para que orasse a fim de que seus problemas pessoais aumentassem. Você já viu alguém indo pra igreja para ouvir a pregação da Palavra e orar com toda a congregação reunida pra piorar um pouco a vida? É claro que não. Eu também nunca enfrentei uma situação desta.

Acontece que momentos difíceis nem sempre são uma escolha e nunca são desejados. Eles surgem. E quase sempre involuntariamente. E é verdade também, que não podemos ter controle sobre eles. No entanto, o salmista conseguiu enxergar nas aflições pelas quais passou algo de bom; alguma coisa que o fez grato. Estranhamente um motivo para dizer que tudo pelo que passou foi bom. E isso lhe foi possível porque não viu a aflição como aflição em si, sem nenhum propósito. Nem a viu como um momento horroroso de onde não se pode tirar nenhum proveito. Ele viu a aflição como didática, como escola, como fator de desenvolvimento do ser, de possibilidade de aproveitamento para algum tipo de bem.

Veja comigo, quais são os motivos para que você também possa não só compreender as aflições pelas quais você esteja passando neste momento enquanto me lê, mas como o salmista tem razão para ver a dor sob outra ótica. Acredite: isso lhe dará também razões para dizer que tudo o que dói hoje, lhe fazerá um bem enorme pelo resto da vida.

Portanto, vejamos juntos os motivos pelos quais os momentos de aflições podem fazer bem.

Primeiro motivo é a certeza de que, em meio às aflições, Deus sempre está fazendo algo. Eu digo isso porque a tendência é a de imaginar que quando somos açoitados pela aflição, enfrentamos tribulações é porque Deus deixou de agir. Nessas horas pensamos que Deus não está fazendo nada. A Bíblia diz: “Na angústia estarei com ele; ele me invocará, e eu, lhe responderei.”

O segundo motivo que lhe fará concordar que o período de aflição que você possa estar passando é bom vem do fato de saber que Deus é quem esta administrando as aflições. Incrível como parece difícil para muitos acreditar nisso; no entanto, na consciência do salmista, conforme seu discurso, o tempo da aflição a que passara estava sob a administração atenta e controlada por Deus como esteve também as aflições pelas quais Jó um dia atravessou.

Em terceiro lugar, as aflições que sofremos nos levam á profundidade de alma. Nunca vi, ninguém sincero, que entregou seu caminho de dor aos cuidados de Deus, não tenha terminado a jornada com uma sensibilidade de alma mais ampliada, com um senso de solidariedade mais aguçado e com a misericordiosidade mais dilatada. O salmista conclui ter sido bom tudo o que padeceu por que ao menos a sua alma compreendeu o que talvez não houvesse compreendido em profundidade: os decretos do Senhor.

Quarto, as aflições são boas porque nos faz mestres na arte de consolar. Só assopra por instinto a ferida do outro quem foi ferido com o mesmo tipo de ferimento. Conforme o apóstolo Paulo esse é um dos maiores bens provocado pelo sofrimento; Se não, observe: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai de misericórdia e Deus de toda consolação! È ele quem nos conforta em toda a nossa tribulação, para podermos consolar os que estiverem em qualquer angústia, com a consolação que nós mesmos somos contemplados por Deus.” – 2 Coríntios 1: 3; 4.

Quinto lugar, as aflições sempre serão boas toda vez que nos dão a oportunidade de nos tirar do campo da teoria e nos fazer mergulhar no terreno da pratica Outra vez é Paulo quem nos ensina acerta dessa outra verdade em Romanos 5, de 3 a 4; veja: “E não somente isso, mas também nos gloriamos nas próprias tribulações, sabendo que a tribulação produz perseverança, e a perseverança, experiência; e a experiência, esperança.” O conceito é simples: as tribulações sempre tenderá a conduzir-nos à experiência pratica daquilo que conhecemos em teoria, tornado válido o que sabemos pela eficácia demonstrada na aflição que atravessamos o que resulta em perseverança em qualquer outra tribulação pelo exemplos de outras que já suportamos, e nesse caso, a esperança brota da experiência prática.

Sexto lugar, os períodos de aflições e tribulações são bons porque no dá a oportunidade de experimentar a eficácia da Palavra de Deus. Basicamente é saber que em cada promessa, Deus não nos enganou, porque sempre será em situações semelhantes a do salmista que se verá que o nosso socorro vem do alto conforme a Palavra.

E em sétimo lugar, os momentos de aflições são bons porque podem se transformar em trampolins para se adquirir bênçãos maiores. Segundo Paulo, não há benção maior do que alcançar a sublimidade de Cristo. Você duvidaria disso? Existe em qualquer lugar possuir Aquele que possui tudo; a sublimidade que sublima todas as nossas aflições. No entanto, Paulo faz saber que o caminho para alcançar tal benção passa muitas vezes pelas aflições. Observe um de seus temas a esse respeito:”Mas o que para mim era lucro, isto considerei perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Salvador; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para conseguir a Cristo” – Filipenses 3: 7; 8.

Oitavo: aflições são boas sempre que sirvam a Deus como instrumentos de correção do coração e do caráter. Segundo o escritor aos Hebreus, essa é uma das mais nobres lições da dor: a da instrumentalidade disciplinar capaz de tornar o coração imensamente mais virtuoso – “(...) Deus, porém, nos disciplina para aproveitamento, a fim de sermos participantes da sua santidade. Toda disciplina, com efeito, no momento não parece ser motivo de alegria, mas de tristeza; ao depois, entretanto, produz fruto pacífico aos que têm sido por ela exercitados, fruto de justiça.” Todo o contexto fala de aflições agudas, desânimo e dores que exerce a função disciplinadora para o coração.

Por último, o bem das dores da aflição vem do fato de se delas poder adquirir uma percepção mais profunda da mente de Deus e do desenvolvimento de uma necessária empatia com Ele. Ora isso é visto enfaticamente na afirmação de Oséias 2, no verso 14, feita pelo próprio Senhor: “Portanto, eis que eu a atrairei, e a levarei parar o deserto, e lhe falarei ao coração.” Isso foi dito em meio a um adultério espiritual em que o povo do amor de Deus se encontrava, como também se achava esse povo insensível à dor da traição que Deus sofria. Está aí uma coisa que raramente a gente compreende: os sentimentos de Deus ao nosso respeito, sobre nossos pecados e sobre nossas próprias dores. Isso se chama empatia; um nível de profundidade espiritual que poucos são capazes de alcançar. Nisso viu o salmista o privilégio de ser atingido pela aflição: a possibilidade de se compreender o que se passa na mente de Deus – “para que aprendesse os teus decretos”.

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