sexta-feira, 27 de maio de 2011

Perdão

“E, passando eles pela manhã, viram que a figueira secara desde a raiz.
“Então, Pedro, lembrando-se, falou: Mestre, eis que a figueira que amaldiçoaste secou.”
“Ao que Jesus lhes disse: Tende fé em Deus; porque em verdade vos afirmo que, se alguém disser a este monte: Ergue-te e lança-te no mar, e não duvidar no seu coração, mas crer que se fará o que diz, assim será com ele.”
“Por isso, vos digo que tudo quanto em oração pedirdes, crede que recebestes, e será assim convosco.”
“E, quando estiverdes orando, se tendes alguma coisa contra alguém, perdoai...” - Marcos:11: 20 a 25

Todos os milagres realizados por Jesus carregavam um significado. Não se tratavam de milagres por milagres apenas; eles possuíam uma mensagem em si. Assim, não é diferente com esse milagre onde Jesus decreta a morte da figueira como se lê no texto descrito acima em cuja mensagem mais estampada, era o juízo sobre a nação de Israel, aqui ilustrada pela figura literal da figueira, por razão da nação não manifestar os frutos de fé e arrependimento quando lhe fora enviado Jesus, o Messias. Essa é a mensagem básica do milagre.

Sendo isso entendido ou não pelos discípulos, o fato é que eles ficaram todos maravilhados com o que viram. O milagre fora impressionante. No entanto, a meu ver, a beleza do milagre – se visto assim – está no desencadeamento que a admiração deste milagre provoca em direção a outros milagres maiores e também de maior conseqüência. Veja como isso se dá a partir da perplexidade de Pedro diante do que acabara de ver. Primeiro, é claro, a maravilha de a figueira secar a mando de Jesus; daí, Pedro “babar” de admiração. Então Jesus intensifica o entusiasmo dos discípulos mostrando-lhes a possibilidade de fazerem do milagre da figueira seca uma brincadeira de principiante, um “truque” de criança, um número introdutório nesse mundo de operação de pródigos. Isso nos parece claro quando Jesus lhes apresenta a possibilidade da realização de um milagre maior que aquele de fazer a figueira secar. Veja o que Ele diz: “Tende fé em Deus; porque em verdade vos afirmo que, se alguém disser a esse monte: Ergue-te e lança-te ao mar, e não duvidar no seu coração, mas crer que se fará o que diz, assim será com ele.”. Você consegue imaginar alguma coisa assim? Se o que Jesus fizera com a figueira provocara tanto espanto, o que se dirá com a possibilidade de ver o monte bem ali, siante deles, ser lançado ao mar? – “Não só faremos o que foi feito à figueira, mas se dissermos àquele monte ali oh! – Vai, levanta daí e se joga no mar da Galiléia, vai acontecer! Isso é que é milagre! Isso é que é fé! Isso sim que é poder, pessoal!” – Eu também diria: “Maravilhoso!”.

Acontece que o diálogo não termina aí. Ele continua com a introdução de um assunto aparentemente desconectado com o que já ocorrera e fora dito até o momento.  A partir desse ponto, Jesus afirma algo que parece estar totalmente avulso nesse texto ou dentro desse acontecimento. Note o que Ele diz: “Por isso, vos digo que tudo quanto pedirdes, crendo que recebestes, e será assim convosco. E quando estiverdes orando, se tendes alguma coisa contra alguém, perdoai, para que vosso Pai celestial vos perdoe as vossas ofensas.”.

Qual a relação que isso tem com o que viera sendo dito anteriormente? A resposta é que na seqüência crescente dos dois primeiros milagres, o perdão é apresentado por Jesus como terceiro e maior milagre. Esse é o ponto. É como se Jesus estivesse dizendo:

Faço-lhes um milagre. Um milagre que conta a condição espiritual da nação da Israel, e vocês ficam admirados. E digo que vocês podem fazer um milagre maior. E mesmo sem muito esforço – se tiverdes fé do tamanho de um grão de mostarda (isso está dito no Evangelho de Mateus no capítulo 17, no verso 20). Basta que digam ao monte "Lança-te o mar e isso será feito. Acreditam que podem? – todos nós acreditamos que podemos uma vez que a “Palavra” disse. Então lhes proponho um milagre que do ponto de vista comum e humano parece ser incomparavelmente mais fácil e mais simples. Portanto realizem-no, caso julguem-se capazes: “E quando estiverdes orando, se tendes alguma coisa contra teu irmão, perdoai.”

Portanto, aqui Jesus conecta os assuntos fazendo-nos saber que o perdão é dos milagres, o maior. 

 Dos dois milagres vistos, o desafio é para que cada discípulo opere o milagre do perdão. De outra maneira, está explícito na vida. Conheço muita gente desejando e conseguindo – remover montanhas pela fé, no entanto, por mais que tentem, não são capazes de manifestar o perdão. Sei de pregadores com capacidades extraordinárias de operar milagres, mas não remove mágoas e ressentimentos de colegas de ministérios, de seus líderes e até das próprias ovelhas através do perdão de coração. Se você não concorda comigo, tente realizar esse “prodígio”. Perdoe seu marido pelo adultério que ele cometeu e você verá como é difícil ser prodigiosa nesse campo. Perdoe sua amiga por ter saído com ele. Se você é homem e vive um conflito angustiante com sua sexualidade, perdoe seu tio ou seu vizinho por ter lhe molestado sexualmente na infância. Se a senhora ou o senhor são os pais dessa menininha estuprada, perdoe o estuprador dela. Se você foi alguém que tinha tudo, alguém que lutou e com muito custo venceu na vida, mas que, no entanto, foi vítima de um sócio, de um amigo ou uma amiga de trabalho ardiloso, falso, dissimulado, invejoso que armou contra você, que mentiu contra a sua honra de maneira que sua vida desmoronasse por inteira, fazendo-lhe perder tudo e deixando-lhe sentir-se com a vida roubada; perdoe esse sujeito; perdoe essa moça. Nada fácil, a vida vai lhe mostrar.

Agora por que o perdão dentre os milagres apresentados, é o maior? É maior pelo fato de que, existencialmente ele tem importância e conseqüências maiores que praticamente qualquer outro milagre. Por que digo isso? Porque Jesus nesse texto me faz saber que existem milagres que mudam circunstâncias, que alteram geografias, que recuperam órgãos adoecidos e facilitam a vida dos que estavam doentes, mas que não curam o coração e nem melhoram a vida em sociedade. Pense nas guerras. O que poderia por fim em muitas delas, senão a todas elas? O perdão. Pense nas famílias dilaceradas, nos corações ensangüentados, nos filhos arruinados, nos litígios praticados em quatro paredes, esquartejando almas e produzindo vítimas de tantas deformidades quantas forem possíveis serem produzidas. O que mudaria essa realidade sentida, essa geografia interna, essa convivência em sociedade anônima ou aberta, limitada ou comum? Eu digo: o perdão. Nada mais milagroso que o perdão. Nada mais poderoso para transformar as relações humanas com capacidade de rasgar as fronteiras e etnias que o perdão.

Portanto eu lhe digo: Você deseja ser prodigioso? Almeja um ministério de milagres? Quer muito realizar um milagre agora? Então saia de casa agora e pratique o perdão. Ou quem sabe, volte para casa e manifeste esse milagre ali.

De que me adianta mudar uma montanha do lugar mas não perdoar a pessoa do meu lado.

Deus lhe abençoe.