sábado, 27 de novembro de 2010

COMO REACENDER A CHAMA DA VIDA APAGADA PELA DOR


"Jesus, sabendo disto, afastou-se dali, e acompanhou-o uma grande multidão de gente, e ele curou a todos, advertindo-lhes, porém, que o não expusessem à publicidade, para se cumprir o que foi dito pelo profeta Isaías:
"Eis aqui o meu servo, que escolhi, o meu amado, em quem a minha alma se compraz: porei sobre ele o meu espírito, e ele anunciará juízo aos gentios. Não contenderá, nem gritará, nem alguém ouvirá nas praças a sua voz. Não esmagará a cana quebrada, e não apagará atorcida que fumega, até que faça vencedor o juízo. E, no seu nome, esperarão os gentios" (Mateus, 12:15-21).
Não tem muito tempo, fui chamado até a casa de um amigo, membro da igreja onde eu pastoreava. Assim que entrei na sala pude perceber a dor que o machucava ao olhar em seu olhos enquanto, assentado no sofá, me dizia “Tô quebrado pastor!”.  Ele havia me chamado para descarregar o seu desespero: acabara de ser demitido da empresa que o trouxera do nordeste do país para o interior de São Paulo. Eu estava diante de um homem que sentia´se desamparado e desfazendo-se em lágrimas. Realmente ele estava quebrado.
Esse é só um caso de gente “quebrada” dentre milhares que existem por aí afora. São pessoas arqueadas ao ponto de racharem como a cana exposta a ventos fortes.  O fato é que há muitos que, maltratados pelos tufões vida, estão quebrados como a cana e apagados como uma torcida que fumega. O texto bíblico apresentado acima é um diálogo com todas as pessoas que se encaixam nessa condição.
Deixe-me tomar a coisa pelo princípio. Anterior a esses versos, aconteceram dois episódios muito semelhantes entre si que criaram uma enorme animosidade entre os fariseus e Jesus.
Os primeiros versos do capítulo 12 nos informam que num dia de sábado, Jesus caminhava com os discípulos próximos searas de trigo acontecendo estarem os doze com fome.  A reação foi lógica e prática: sem rodeios, entraram na seara, colheram espigas e comeram.
Acontece que isso tudo fora feito na cara dos fariseus e a reação da facção religiosa mais fervorosa do judaísmo foi a de recriminar, horrorizada, a atitude dos discípulos por terem feito o que fizeram em sendo o dia sábado. E queixaram-se com Jesus. A isso, Jesus lhes lembra um antigo acontecimento protagonizado por Davi e seus homens sob as mesmas condições. A situação era muito parecida. Estando os homens de Davi com fome, entraram todos no Templo, a Casa de Deus, e comeram os pães da proposição, proibido a quem quer que fosse comer, com exceção dos sacerdotes, que inclusive comiam dos pães aos sábados no Templo e ficavam livres de qualquer culpa (verso 5).
Imediatamente após a este ocorrido, que já havia criado um grande desconforto aos fariseus, entramos no segundo episódio. O verso 9 do mesmo capítulo nos dá conta de que Jesus agora entra na sinagoga daquele pessoal e que ficava ali, bem pertinho.  Não demorou muito e Jesus notou no lugar um homem com problema na mão. O tal homem sofria de atrofiamento de maneira que sua mão era mirrada. Já irritados com Jesus, os fariseus procuram agora motivo para acusá-lo de transgressão da lei intensificando a hostilidade, e lhe pergunta: “É lícito curar no sábado?”; ao que o Senhor lhes responde: “Qual dentre vós será o homem que, tendo uma ovelha, e, num dia de sábado, esta cair numa cova, não fará todo esforço, tirando-a dali? Ora, quanto mais vale um homem que uma ovelha? Logo, é lícito, nos sábados, fazer o bem.” Tendo lhes dito isso, Ele chama o homem pra perto dele e ordena-lhe que se estenda a mão. O homem, estendendo-a, foi curado à vista dos enraivecidos fariseus.
O que se soube depois disso foi que todos aqueles fariseus, já não podendo esconder as intenções homicidas e os ares de conspiração, faziam planos para matar a Jesus.
Em que condições, portanto, essa leitura bíblica propõe um diálogo com esse contingente infindável de pessoas quebradas e apagadas? Ela propõe o diálogo com essa gente na medida em que informa a todos que o único vínculo libertador de toda dor e aflição humana está no fato de que a marca essencial, o ânimo fundamental de Jesus para com essa gente toda é a compassividade com que Ele as vê e a misericórdia com que Ele as trata bem diferente dos fariseus e, por conseqüência, diferente de qualquer estado religioso que incorpora esse espírito farisaico. O diálogo se faz como um apelo à fé, à confiança e à aceitação de que Jesus de Nazaré é aquele que foi enviado com o propósito de manifestar a misericórdia de Deus. Jesus é o rosto misericordioso de Deus, empático com os pobres doentes e sofredores, capaz de se compadecer de todos que trazem as tatuagens da tragédia estampadas em suas vidas.. Essa é a principal característica do Messias descrita por Isaías conforme registro de Mateus.
Posso afirmar isso a partir do texto, primeiro porque, diferentemente dos fariseus, Jesus era profundamente compassível à carência humana mais elementar. Veja como a necessidade mais básica à existência humana está acima de qualquer dogma religioso. Para os fariseus, o valor da observação do sábado está acima de satisfazer a imposição da fome. Para Jesus não. Em definitivo.
Segundo, afirmo isso porque Jesus é imediatamente mais responssível às ocorrências infortuitas da vida capazes de gerar um ser humano fisicamente limitado, doente, enfermo, seja físico, seja mental ou emocionalmente do que às observações mais sagradas de  que qualquer dogma religioso. Esse texto demonstra que Ele estava ali para se preocupar com as dores do homem mais do que para se preocupar com liturgias e bulas religiosas.
Em terceiro lugar, eu afirmo que a misericórdia é uma das mais essenciais características de Jesus em razão de que Nele, nenhuma manifestação religiosa, seja ela nascida da Lei, dos Profetas, da Torá ou da Bíblia se presta a coisa alguma se não for para jorrar o bem em direção ao ser humano. Esse é o propósito da fé: manifestar o bem ao homem como sinal do amor que Deus lhe tem. Veja o diálogo de Jesus com os fariseus raivosos logo após Ele ter curado o homem de mão atrofiada: “Ao que lhes respondeu: Qual dentre vós será o homem que, tendo uma ovelha, e, num sábado, esta cair numa cova, não fará todo o esforço, tirando-a dali? Ora, quanto mais vale um homem que uma ovelha? Logo, é lícito, nos sábados, fazer o bem.”
Por que era assim para Jesus? Por três razões: primeira porque a existência humana, em importância, vinha antes da existência das observações religiosas. Era questão de prioridade. Segunda, porque Jesus cobriu com sua perfeição a imperfeição de todos os que não foram capazes de cumprir os dogmas da lei por si próprios devido suas fraquezas, e, por isso carregavam ao fardo da culpa. Era questão de graça e misericórdia. Isso é visto no argumento que Jesus apresentou a respeito do Templo, a Casa de Deus. Jesus dizia que no templo os sacerdotes comiam o pão no sábado e ficavam sem culpa, ao que Ele afirma: “Está aqui quem é maior que o templo”.  Em outras palavras, Jesus estava dizendo: “Se o templo os encobre, muito mais Eu; se o templo santifica aos atos dos sacerdotes por violarem o sábado, mas, sob o templo e eles ficam sem culpa; muito mais eu santifico aos pecadores que se refugiam em mim, que se enfiam por meio da fé debaixo de mim em busca de vida, proteção e perdão. Estes são como cana esmagada e pavios de lamparinas que estão a um fio de se apagarem. A terceira razão é que Jesus veio como Messias para levantar o que caiu e reascender o que se apagou: “Não esmagará a cana quebrada, nem apagará a torcida que fumega, até que faça vencedor o juízo”. Deixe-me apresentar o sentido disso. De maneira geral, somos todos como a cana que se quebrou e como o pavio de lamparina que está perdendo o fogo na analogia de Jesus, em razão do efeito do pecado a cerca do qual ninguém pode se auto-afirmar inocente, pois a Bíblia diz: “pois todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Romanos 3:23). O pecado quebra o homem com o golpe da morte e o apaga tornando carente da Luz-Glória de Deus. Mas, de outra maneira, e talvez mais perceptível a você, muitos estão assim hoje, quebrados e apagados, em função dos furações, das tempestades de vento que ocasionalmente assolam a gente de inúmeras maneiras. É como no caso de meu amigo e ovelha que mencionei no início do texto. Pode estar sendo assim com você também.  Pode estar acontecendo com você agora enquanto me lê: uma angústia profunda de alma, uma falência, uma separação dolorosa, o desemprego, uma doença irreversível (enquanto acabo de escrever esta linha, recebo uma ligação da minha filha me dizendo que uma amiga e ovelha acabara de falecer por motivo de complicações durante uma cirurgia de redução do estômago. O corpo ainda não havia chego. [...] Já cheguei de lá! A tempestade está soprando forte sobre aquela família). Não preciso de mais exemplos. Você já entendeu.
Por favor, preste bastante atenção: é para com essas pessoas que a misericórdia de Jesus se mostra abundante; é contra essas pessoas que Jesus não levanta a vós nem discute acerca de razões; tampouco é contra essas pessoas que Jesus faz exposições públicas, as acusa, as envergonha ou as esculacha em praça pública como os fariseus gostam de fazer com as adúlteras e outras fraquezas morais. Mateus diz que os motivos pelos quais Ele pode levantar essa gente, são simples. Um deles é que só Jesus é sobrenaturalmente capacitado com poder de Deus para reerguer a cana quebrada e reacender o torrão que fumega. Vejo o que está dito: “Eis aqui o meu servo, que escolhi, o meu amado, em quem a minha alma se compraz. Farei repousar sobre ele o meu Espírito. No poder do Espírito de Deus Jesus liberta; no poder do Espírito de Deus Jesus cura; no Poder do Espírito de Deus Jesus consola; nesse mesmo poder Ele acalma a tempestade, Ele consola corações, Ele limpa aos leprosos, ele multiplica os recursos, Ele transforma a água em vinho de alegria; de onde menos se espera Ele tira recursos, dá forças aos fracos, ânimo aos oprimidos, vista aos cegos, movimento aos paralíticos, reaviva aqueles cujo fogo está minguado e dá vida aos mortos. Tudo Ele pode fazer com objetividade da manifestação de sua misericórdia aos aflitos porque sobre Ele repousa o Espírito de Deus como em nenhum outro repousa. Outro fato simples é aquele que afirma que através de Jesus é que vem o anúncio de que Deus está fazendo sair o juízo sobre toda impiedade e pecado humano, Veja: “ele anunciará o juízo aos gentios”. Isso significa que todos poderão saber que a compassividade que Jesus mantém por todos os pecadores quebrados como a cana e esmagados com o pavio apagado em função do pecado, o levará voluntariamente não a apenas anunciar o juízo como também se colocará no lugar do pecador como substituto a fim de receber sobre si a justa punição dos pecados destes para que estes recebam o direito gratuito de serem justificados diante de Deus e perdoados do pecado que a Lei exigia como juízo sobre o pecador, a saber: a morte. Quando Jesus morreu na cruz em nosso lugar por causa do nosso pecado, o juízo saiu vencedor porque a justiça foi feita. Assim Ele pode justificar a todos pela fé, ou seja, pela confiança de que aquilo que Ele fez a nosso favor, foi suficiente para nos purificar da culpa do pecado e nos livrar da condenação. É a cana quebrada que ganha o direito de ficar em pé e o torrão fumegante de reacender a chama da vida novamente.  Por isso que se diz que o Messias não viria nem para quebrar o que quebrado estava e nem para apagar o que apagado ficou.
Agora ouça-me naquilo que me parece o mais importante: afim de que você possa ter parte nesse favor realizado pela misericórdia de Jesus em seu favor, lhe reerguendo e lhe reacendendo para uma nova vida, você necessita possuir uma esperança “gentílica” no coração. Eu explico: você precisa nutrir no coração a consciência de que não tem mais nada a perder por já ter perdido tudo, inclusive o direito à vida que o pecado lhe arrancou e à alienação da Glória de Deus pelo mesmo motivo. Isso deve existir em você de tal forma, que a sua única esperança de voltar a receber algo de bom, de novo e de restaurador, jaz única e exclusivamente em Jesus. Fora dele não há a menor esperança nem de se erguer para a vida nem de se levantar diante de Deus.  Assim era com os gentios sobre os quais os judeus ensinava ser um povo desprivilegiado por não pertencer ao povo escolhido, o que os tornava também estranhos às alianças de Deus, não participante de suas promessas e sem Deus no mundo. No entanto agora, Deus, por meio de Jesus de Nazaré, volta a essa gente o seu rosto cheio de misericórdia, e, os gentios, de alguma maneira, percebem que só tem a ganhar por meio de Jesus, depositam toda sua esperança nele: “E, no seu nome, esperarão todos os gentios”, informa o texto.
Bom! Agora é com você. Você sabe que Jesus é o Ser mais amável e compassível com os aflitos e pecadores, que qualquer outro, inclusive, mais do que a religião; sabe também que Ele é o ser mais poderoso, de maneira que o seu poder se manifesta em duas dimensões na vida dos “quebrados”: na dimensão espiritual, onde Ele é o único que tem poder de justificá-lo diante de Deus e perdoá-lo de todos os seus pecados; e, na dimensão histórica onde os fatos concretos acontecem para muitos, das formas mais trágicas, Ele também é o único que possui o poder da cessação da dor e da intervenção sobre as calamidades individuais para sarar os esmagados e consertar os quebrados.
Para mim, no entanto, me cabe lhe fazer um ardente e sincero apelo: Creia na misericórdia que Jesus tem por você seja você quem for ou tenha feito você o que tiver feito; Confie em Seu poder de levantar sua vida da mais profunda tragédia que lhe derrubou; Espere nele como um gentio que não tendo esperança em mais nada, colocou nele sua esperança, e Ele virá sobre ti para cobri-lo com salvação.
Aceite isso com o meu verdadeiro carinho.

0 comentários:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...